2025-12-08
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Pistola Springfield Armory 1911 Ronin em 9mm é exibida em Houston,Texas — Foto: Patrick T. Fallon / AFP
GERADO EM: 04/12/2025 - 16:49
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O Rio de Janeiro é o estado do Sudeste onde o crime mais usa pistolas 9mm,uma arma mais moderna e mais potente. Antes restrito às forças de segurança,o calibre foi liberado para Colecionadores,Atiradores e Caçadores (CACs) durante o governo Bolsonaro,vetado novamente pelo atual governo,mas continua em ascensão no mercado ilegal de armas.
É o que revela a pesquisa “Arsenal do Crime: Análise do perfil das armas de fogo apreendidas no Sudeste (2018-2023)”,lançada hoje pelo Instituto Sou da Paz. O levantamento inédito analisou 255.267 armas apreendidas,entre 2018 e 2023,nos quatros estados do Sudeste: São Paulo,Rio de Janeiro,Espírito Santo e Minas Gerais.
Ao traçar o perfil da arma do crime na região,o instituto concluiu que o estoque tradicional,antes dominado por revólveres antigos calibre .38 e espingardas de alma lisa e garrucha,foi sendo substituído por armas novas,semiautomáticas,em calibres de maior potência e que permitem dar vários tiros em poucos segundos.
Os dados referentes às 45.897 armas de fogo apreendidas no Rio de Janeiro no período,obtidos com exclusividade pelo GLOBO,mostram tendências significativas sobre o mercado ilegal de armas no estado fluminense.
Nesse intervalo de cinco anos,as apreensões apresentaram oscilações acentuadas,com uma queda relevante em 2020,seguida por uma retomada de crescimento a partir de 2021. O ano de 2023 teve 8 mil armas apreendidas,retornando ao patamar anterior ao da pandemia e consolidando o Rio de Janeiro como um dos principais pólos de circulação de armas ilegais do Sudeste,com grande presença de pistolas e fuzis.
Em todo o estado,na média dos cinco anos,quase metade das apreensões são de pistolas (49,8%),seguidas de revólveres (32,9%),espingardas (7,2%) e fuzis (6,8%).
Entre as pistolas,mais da metade (54,8%) utilizam a 9mm,chegando a 64,9% em 2023. A predominância desse calibre reforça o avanço das armas semiautomáticas no mercado ilícito.
A precisão do disparo,o recuo ínfimo e a maior capacidade de tiros num único carregador tornaram a 9 mm a favorita dos CACs durante o governo Bolsonaro. Do outro lado,especialistas criticavam a liberação do armamento por seu alto poder de “transfixação”,ou seja,sua capacidade de atravessar um alvo e atingir duas pessoas com um único disparo.
A 9 mm é mais perigosa e,exatamente por isso,sofreu uma grande pressão para ser realocada dos CACs para os profissionais das forças de segurança. Em 2023,depois dos decretos do governo Lula,passou a ser proibida novamente.
Malu Pinheiro,pesquisadora no Instituto Sou da Paz,ressalta que,mesmo depois da proibição,o mercado ilegal ainda sentirá,nos próximos anos,o efeito do “desmonte regulatório” ocorrido com a flexibilização do acesso às armas e munições promovida pelo governo Bolsonaro.
— Mais armas como essa em circulação representam um poder de fogo maior na mão do crime,ocorrências com maior risco à vida das pessoas. Essa potência vai indicar um ferimento mais grave e um risco de vida maior para quem está recebendo aquele tiro. Além disso,também há uma facilidade para o crime em confrontos policiais,para recarregar a arma com mais rapidez,por exemplo — explica Malu.
O levantamento mapeou os órgãos responsáveis pelas maiores apreensões no Rio de Janeiro. As forças estaduais lideram (93,mas chama atenção o aumento expressivo da participação da Polícia Federal,cujas apreensões cresceram 595% entre 2022 e 2023,em razão de grandes operações de repressão ao comércio irregular. A atuação,segundo a pesquisa,reforça o papel estratégico das forças federais no combate ao desvio e comércio ilegal de armas.
A análise temporal indica,de acordo com instituto,concentração das apreensões nas quartas e segundas-feiras,e nos períodos entre início da tarde e noite (51,3%). A via pública é o principal local de apreensão,com 36,8% dos casos,seguida pelos ambientes residenciais,com 18,2%.
A cidade do Rio de Janeiro concentrou 70,4% das apreensões no período de cinco anos,acompanhado por cidades da região metropolitana como Duque de Caxias,São Gonçalo e Nova Iguaçu.
Em termos proporcionais,a capital liderou também a taxa de apreensões por 100 mil habitantes,seguido por municípios litorâneos,como Cabo Frio e Niterói. As rodovias BR-101 e BR-116 aparecem como eixos estratégicos de escoamento,ao conectarem o estado ao Espírito Santo e São Paulo.
A grande maioria das armas apreendidas,destaca a pesquisa,é do tipo industrial (98,4%),com apenas 1,6% de armamento artesanal. O número de fuzis apreendidos é particularmente alarmante (3.067 armas),o maior entre os estados da região Sudeste,reflexo das dinâmicas de conflito armado entre facções e entre estas e as forças de segurança.
O mercado de armas ilegais é um problema predominantemente de origem doméstica,ressalta o levantamento. O Grupo Taurus responde por 47% das apreensões,enquanto Glock (7,6%),Bersa (3,1%) e Canik (2,3%) lideram entre as marcas estrangeiras. Como consequência,armas fabricadas no Brasil lideram com 50,2%,seguidas por Áustria (7,EUA (5,5%) e Turquia (5,3%).