2025-12-08
HaiPress

whey protein — Foto: Freepik/Reprodução
GERADO EM: 05/12/2025 - 18:56
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Os suplementos alimentares invadiram gôndolas de supermercado,farmácias e lojas virtuais,com divulgação até mesmo em redes sociais,como o TikTok. Quem entrou na febre,porém,precisa ter atenção para não ser enganado ou fazer mau uso dos produtos. Especialistas e servidores de vigilância sanitária alertam: seu whey pode estar batizado.
Pesquisa feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) identificou que 65% dos suplementos alimentares têm algum tipo de irregularidade,seja em informações no rótulo (como diferenças entre as quantidades de ingredientes informadas e as que o produto oferece de fato),ou em etapas anteriores à venda do produto,como testes de pureza necessários.
O levantamento,que reúne dados até agosto deste ano,expõe falhas de fiscalização e possíveis riscos à saúde em um mercado que apresenta forte crescimento.
Segundo a Anvisa,entre janeiro de 2020 e agosto de 2025,foram recebidas aproximadamente 5.000 queixas técnicas e denúncias sobre alimentos. Dentre as categorias envolvidas,63% diziam respeito a suplementos alimentares.
A fiscalização abriu 1.574 dossiês para investigar irregularidades,as mais frequentes relacionadas a publicidade,rotulagem e problemas na composição. A agência aponta que suplementos irregulares vêm sendo divulgados e comercializados em sites de vendas on-line,como Shopee e Mercado Livre,sem possuir regularização sanitária.
As falhas não são encontradas somente no whey protein,mas em suplementos que prometem perda de peso,melhora do sono,crescimento do cabelo,entre outros.
O nutricionista Guilherme Schweitzer alerta que o consumo de produtos irregulares pode prejudicar a produção de nutrientes no organismo. Ele conta que já adquiriu um produto que se propunha a melhorar o sono,vendido no marketplace da Amazon. Após o consumo,percebeu que o produto era adulterado.
— É um duplo prejuízo. Além disso,o paciente pode manifestar sintomas dos mais diversos,a depender de qual suplemento tenha sido adulterado. Os mais comuns são: sensação de enjôo,náuseas,desconfortos gastrointestinais e dores de cabeça — explica.
De acordo com o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma),houve um aumento de 37% nas vendas dos suplementos entre 2025 e 2024. Os problemas fizeram com que a Anvisa retirasse do mercado em novembro duas marcas de whey protein após identificar falhas no processo de regularização sanitárias dos produtos,comercializados em plataformas de comércio eletrônico.
O médico nutrólogo Sandro Ferraz aponta que houve uma disparada no consumo de suplementos alimentares no Brasil:
— O whey protein virou quase um item de cesta básica. Nas academias,nos feeds das redes sociais e até nas prateleiras online,a promessa é sempre a mesma: mais músculo,mais performance,mais saúde — afirma,mas acrescenta que é preciso tomar cuidado no consumo. — A maioria das pessoas não imagina,mas parte desses produtos pode conter menos proteína do que anuncia,ingredientes trocados,contaminantes invisíveis ou falhas graves nos testes de segurança.
O estudante de direito André Veloso comprou no ano passado um suplemento que prometia ganho de energia e disposição para ajudar durante sua rotina,entre estudos e exercícios físicos. Os efeitos colaterais se manifestaram no terceiro dia.
— Me veio uma sensação de enjoo muito ruim,e começou a bater uma ansiedade,taquicardia mesmo. Fiquei deitado por um tempo até me acalmar e joguei o produto fora logo — conta.
Em nota,a Anvisa diz que implementa um programa nacional de fiscalização dos suplementos,que segue critérios como número de denúncias recebidas,necessidade de investigação in loco,pedidos de apoio das vigilâncias sanitárias estaduais e gravidade do risco sanitário.
“Esse projeto se justifica pelo grande número de denúncias relacionadas a suplementos alimentares,envolvendo propagandas enganosas,composição irregular ou efeitos adversos”,diz a Agência.
Entre 2021 e 2024,foram inspecionadas 34 empresas fabricantes de suplementos alimentares. Destas,22 (65%) apresentaram resultado insatisfatório,8 (23%) tiveram que prestar esclarecimentos e apenas 4 (12%) tiveram resultado satisfatório no atendimento às regras de boas práticas de fabricação de alimentos e a adequação dos produtos à legislação sanitária vigente.
Segundo Sandro Ferraz,os riscos mais frequentes do consumo de suplementos irregulares incluem subdosagem de proteína e excesso de carboidratos — muitos wheys baratos compensam a baixa proteína com maltodextrina,aumentando glicemia,inflamação e ganho de gordura.
Também há risco de presença de impurezas,como metais pesados,microrganismos ou resíduos industriais,além de produtos perigosos para alérgicos sem a indicação.
Em nota,o Sindusfarma afirma que tem reforçado a orientação às empresas para o cumprimento rigoroso das normas de rotulagem,qualidade e conformidade sanitária. A entidade disse manter iniciativas de monitoramento do mercado digital e denúncias à Anvisa sobre irregularidades,apontando preocupação com a concorrência desleal.
A Anvisa mantém no site um ambiente em que é possível consultar se os suplementos são regularizados e orienta que os rótulos sejam lidos com atenção. Confira as dicas para garantir a compra de produtos autorizados pela fiscalização:
Consultar no site da Anvisa se o produto é regularizadoDesconfiar de preços muito abaixo do mercado. Se o valor é “bom demais”,cuidadoVerificar se o fabricante disponibiliza laudo laboratorial. Marcas que são referência costumam mostram resultados de proteína real por doseChecar ingredientes. Quanto mais curta a lista,melhor. Segundo especialistas,é melhor evitar: aromatizantes artificiais em excesso,maltodextrina oculta,blends sem especificação (“proteína do leite” sem detalhar qual)Sempre comprar de lojas confiáveis. Dê preferência a canais oficiais e evite marketplaces com vendedores desconhecidos.