2025-03-11
IDOPRESS
O presidente dos EUA,Donald Trump,assinando decretos no Salão Oval da Casa Branca — Foto: Haiyun Jiang / The New York Times
GERADO EM: 10/03/2025 - 22:18
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A incerteza é mais forte que a política monetária e a política fiscal para reduzir o ritmo de atividade. Subir juros e cortar gastos têm menos efeito do que a incerteza gerada diariamente pelo governo de Donald Trump. Isso está produzindo queda de investimento e de atividade econômica nos Estados Unidos. O cenário de recessão americana não é considerado o mais provável,mas o fato é que as tarifas,mesmo não estando em vigor,já surtem efeito econômico. Foi o que me disseram dois economistas que ouvi ontem,no governo e no mercado financeiro. Diante disso,o que o Brasil pode fazer? "Não criar mais ruído. A hora é de não aprontar confusão,porque o mundo ficou mais complicado”,me disse um deles.
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O dólar subiu ontem diante do real e de outras 27 moedas. É a volatilidade que impressiona. No último trimestre do ano passado,o real se desvalorizou em 14% e este ano se valorizou em 6%. Gangorra. Há percepção negativa sobre algumas políticas da gestão Lula,ou temores sobre mudanças de rumo,mas há principalmente um mar de dúvida em relação ao governo Trump. E isso nos afeta.
A incerteza tem impacto econômico porque ela produz paralisia decisória. Investimentos que seriam feitos,não são feitos,empregos não são gerados,impostos não são recolhidos,atividade econômica não acontece. Essa é a realidade hoje em um mundo em que o governante da maior economia é um fator diário de turbulência.
Donald Trump criou um enredo para as taxas que,mesmo não estando em vigor para o México e o Canadá,pairam sobre as decisões empresariais e afetam relações políticas. O primeiro-ministro de Ontário,Doug Ford,decidiu elevar em 25% o custo da energia que fornece para Minnesota,Michigan e Nova York. O custo da energia pode ser pouco afetado,porque há outros fornecedores competindo no mercado à vista,contudo aumenta a animosidade.
No Brasil,as análises feitas tanto no mercado financeiro,quanto na área econômica mostram que tudo ficou mais difícil porque “o sistema de governança do país pifou”. Em outras palavras: o governo distribui cargos para os partidos,mas isso não se transforma em apoio na agenda. Os parlamentares têm liberdade sobre o Orçamento,porém não têm responsabilidade. O governo tem que fazer superávit,mas não pode cortar gasto tributário,nem pode aumentar impostos.
No Banco Central,o que se espera é que,no Brasil,apesar da alta das taxas de juros,haja “uma desaceleração ordenada,compatível com o nível de restrição da política monetária e com a desaceleração fiscal”. Ou seja,o país vai diminuir o crescimento,mas não vai entrar em recessão. Há um outro fator que parecia uma desvantagem e pode ajudar agora. O país não foi bem-sucedido em se integrar às novas cadeias produtivas,reorganizadas depois da pandemia. Desta forma,a crise das tarifas nos atingirá apenas setorialmente.
Para o Brasil,que sediará a COP 30,o governo Trump é um fator altamente desestabilizador. Ontem,na primeira carta que divulgou como presidente da Conferência das Partes,o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago não mencionou o seu maior problema: a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Mas a situação será ainda mais constrangedora,porque o governo norte-americano participará da COP30. Após o anúncio de saída,o país permanece por mais um ano. Isso significa que um representante de Trump,já fora do acordo,pode estar em Belém.
Na carta,Corrêa do Lago lembra a dimensão econômica do risco ambiental. “O Conselho de Estabilidade Financeira — a organização internacional que monitora e recomenda políticas para o sistema financeiro global —informou em janeiro passado que os choques climáticos podem ameaçar a estabilidade financeira do mundo”,escreveu o embaixador. Além de todos os riscos que a mudança do clima representa,é também uma ameaça financeira.
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O governo Trump produz incerteza na economia,nos rumos da geopolítica,nos debates sobre o combate às mudanças climáticas. Em ambiente assim tão deteriorado,o melhor seria não ter dúvidas internas. Mas há. O governo,na busca de melhores níveis de popularidade,pode tomar decisões para reativar a economia que o Banco Central tenta desaquecer de forma ordenada para garantir a queda da inflação. No mundo e no Brasil,o que há é muita incerteza.