2025-02-24
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Friedrich Merz,líder da CDU que deve se tornar chanceler da Alemanha — Foto: Ina Fasbender/AFP
GERADO EM: 23/02/2025 - 23:21
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A eleição mais decisiva da Alemanha em anos está pavimentando o caminho para uma guinada rumo a mais gastos públicos no país,conhecido por seu compromisso com a austeridade fiscal. Isso é o que os investidores e analistas de mercado em todo o mundo estão prevendo a partir dos resultados do pleito de domingo: o fim de uma era de políticas fiscais restritivas na maior economia da Europa.
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O euro subiu 0,4%,chegando a quase US$ 1,05 (R$ 6,01) na Ásia,onde os mercados já estavam abertos após a divulgação das pesquisas de boca de urna na Alemanha. Projeções iniciais de votos mostraram que o bloco conservador liderado por Friedrich Merz (da CDU,mesmo partido da ex-chanceler Angela Merkel) venceu a eleição de domingo,conforme o esperado.
Friedrich Merz (C),líder da conservadora União Democrata Cristã (CDU) da Alemanha,em campanha — Foto: Sascha Schuermann / AFP
Com isso,mas diante da indefinição sobre como Merz terá de conversar com outras legendas para formar um governo,os futuros de títulos permaneceram estáveis.
Outro destaque da eleição foi o bom desempenho do AfD,o partido de extrema direita da Alemanha,que deve permanecer isolado dos outros e distante do governo,mas terá um bom número de cadeiras no parlamento como o segundo partido mais votado.
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— Para os mercados,o resultado é favorável porque a Alemanha continuará com um governo centrista,mas que fará uma transição para uma orientação mais pró-negócios e pró-investimento — avaliou Matt Gertken,estrategista-chefe de geopolítica da BCA Research.
Ele acrescentou:
— O país também terá chances um pouco melhores de evitar uma grande ruptura com o governo (de Donald) Trump (nos EUA) em relação ao comércio,à Rússia ou à China."
A colíder do partido de extrema-direita AfD e candidata a chanceler Alice Weidel e o colíder do partido Tino Chrupalla comemoram com membros do partido durante as eleições em Berlim — Foto: RALF HIRSCHBERGER / AFP
O bloco CDU/CSU de Merz deve vencer com 28,9% dos votos,à frente do partido de extrema direita AfD e dos sociais-democratas do atual chanceler,Olaf Scholz.
Falando na noite de domingo,Merz afirmou que deseja formar um novo governo o mais rápido possível,observando que o mundo "não vai esperar por nós" para longas negociações de coalizão.
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No melhor cenário para os mercados,Merz formaria uma coalizão sólida com um ou dois outros partidos tradicionais. Esse resultado facilitaria o caminho para reformas que poderiam revitalizar a economia estagnada da Alemanha — e possibilitar mudanças no limite constitucional de endividamento,introduzido em 2009 e conhecido como freio da dívida.
Para Krishna Guha,vice-presidente da Evercore ISI,uma coalizão de dois partidos entre CDU/CSU e o SPD de Scholz,com apoio suficiente de outras siglas para reformas que alterem os freios da dívida pública alemã,seria "o melhor resultado disponível para a Europa,a Ucrânia e os mercados financeiros."
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Eleitores fazem fila do lado de fora de duas seções eleitorais para as eleições no leste da Alemanha — Foto: JENS SCHLUETER / AFP
Isso representaria uma mudança radical para a Alemanha,que há muito tempo defende a prudência fiscal. Mas,com os Estados Unidos pressionando a Europa a gastar mais em defesa,essa mudança agora está em discussão.
Entretanto,com a contagem de votos ainda em andamento na noite de domingo,não estava claro se os partidos menores conquistariam votos suficientes para garantir mais de um terço das cadeiras no parlamento. Caso isso ocorra,eles poderiam bloquear mudanças constitucionais,potencialmente gerando volatilidade nos mercados.
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Há sinais de que os políticos alemães,incluindo Merz,reconhecem a necessidade de maior endividamento — embora,em um de seus últimos discursos aos eleitores na sexta-feira,ele tenha dito que flexibilizar as restrições ao endividamento público "não é uma prioridade."
A Alemanha tem capacidade para aumentar seus empréstimos,com alguns dos menores custos e uma das menores cargas de dívida da zona do euro.
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Os riscos internos também são altos. A economia alemã encolheu em 2024 pelo segundo ano consecutivo,algo que aconteceu apenas duas vezes desde 1950.
Anos de subinvestimento,a perda do gás barato da Rússia e uma longa crise na China — um parceiro comercial-chave — pesaram na produção,levando a um intenso debate sobre como a Alemanha pode retomar o crescimento.
— No momento,não há muito espaço para decepções nos mercados de ações,e,no curtíssimo prazo,isso pode ser um fator positivo — disse Neil Birrell,diretor de investimentos da Premier Miton Investors.
Nos mercados,os ativos já começaram a precificar a possibilidade de um resultado que favoreça maior endividamento: os títulos alemães caíram em relação a índices de referência,com os papéis de vencimentos mais longos sofrendo maior impacto que os de curto prazo,levando a curva de rendimento ao nível mais inclinado desde 2022.
Isso ocorre porque a dívida adicional tende a afetar mais os prazos longos. Enquanto isso,o índice de ações DAX da Alemanha atingiu um recorde histórico — impulsionado,em parte,por uma alta de 45% neste ano da Rheinmetall AG,a única ação puramente do setor de defesa presente no índice.
As empresas do setor de defesa estão bem posicionadas para se beneficiar de qualquer reforma fiscal que libere capital para mais investimentos nas forças armadas europeias.
Essas ações já vinham registrando ganhos expressivos neste ano,e analistas do Citigroup Inc. observaram,antes do rali da semana passada,que um aumento nos gastos com defesa para 2,5% do PIB,ante os atuais 2%,elevaria a valorização dessas empresas em 15% a 20%.
O euro também se beneficiou dos fluxos de investimento em ações alemãs neste ano e estava prestes a registrar um ganho de quase 1% em fevereiro,seu melhor desempenho mensal desde agosto.
Sede do Banco Central Europeu,em Frankfurt,na Alemanha — Foto: Alex Kraus / Bloomberg
Dados da Depository Trust & Clearing Corporation mostram que 60% das opções colocadas neste ano,com vencimento na segunda-feira,apostavam na valorização do euro. Isso apesar da preocupação generalizada de que a moeda possa,eventualmente,cair abaixo da paridade com o dólar neste ano.
— O euro tem sido prejudicado pela fraqueza estrutural da Alemanha,que deve melhorar caso o novo governo implemente reformas e adote um papel mais ativo em infraestrutura e defesa — disse Dane Cekov,estrategista sênior de macroeconomia e câmbio da Sparebank 1 Markets AS. — No entanto,esse resultado eleitoral não será um divisor de águas para o euro,pois as tarifas que Trump está prestes a impor vão prejudicar a moeda.
Grande parte da trajetória de longo prazo da moeda comum europeia também depende de os investidores acreditarem que o dólar dos EUA já atingiu seu pico. Operadores especulativos,incluindo fundos de hedge e gestores de ativos,reduziram suas apostas na valorização do dólar pela quinta semana consecutiva até 18 de fevereiro,segundo dados da Commodity Futures Trading Commission.
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