Em busca de Deus, no Vale do Silício: grupo reúne expoentes do setor de tecnologia para falar de religião

2025-02-18 HaiPress

Ilustração com Peter Thiel,um dos fundadores do PayPal e influente articulador de direita. Ele é um dos palestrantes da ACTS 17,grupo que promove encontros sobre fé com nomes da tecnologia — Foto: Scott Anderson/The New York Times

RESUMO

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GERADO EM: 17/02/2025 - 19:24

"Encontros tech exploram fé: Peter Thiel lidera iniciativa religiosa no Vale do Silício"

No Vale do Silício,um grupo reúne líderes de tecnologia para discutir religião,liderado por Peter Thiel. Eventos como brunches e palestras abordam a fé cristã. A iniciativa busca conciliar espiritualidade e sucesso profissional,atraindo figuras influentes do setor. O ACTS 17 Collective propicia uma abordagem moderna da religião,despertando interesse e perplexidade na comunidade tech.

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Tudo fez sentido quando Peter Thiel fez o discurso sobre Deus. A ocasião foi a festa de 40 anos de Trae Stephens,sócio de Thiel em uma gestora de capital de risco e um dos fundadores da Anduril Industries,empresa que fabrica sistemas de defesa e armamentos de alta tecnologia.

O evento durou vários dias e foi realizado em 2023 na casa de Stephens,no Novo México. Começou com uma noite de brincadeiras e provocações ao aniversariante,seguida de outra noite de brindes e,por fim,um brunch com caviar e pizza de café da manhã.

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No brunch (com o tema do Espírito Santo),Thiel,um bilionário do Vale do Silício,conhecido por ter sido um dos fundadores do PayPal e hoje influente articulador da direita,fez um discurso sobre milagres,perdão e Jesus Cristo. Os convidados ficaram encantados.

— A sala,com mais de 220 pessoas,a maioria do setor de tecnologia e capital de risco,veio até nós dizendo: "Meu Deus,eu não sabia que Peter Thiel era cristão. Ele é gay e bilionário. Como pode ser cristão?" — lembrou Michelle Stephens,esposa de Trae.

Michelle Stephens,que fundou a ACTS 17,e seu marido Trae,um casal influente no mundo das startups e da tecnologia,cuja fé cristã às vezes os destacava na cena social da Bay Area,em casa em San Francisco — Foto: Aaron Wojack / The New York Times

Essa reação – de surpresa e curiosidade genuína – deu uma ideia a Michelle Stephens: reunir pessoas influentes,incluindo do Vale do Silício,para falar sobre a fé cristã. No ano passado,ela fundou uma organização sem fins lucrativos chamada ACTS 17 Collective,que realiza eventos onde grandes nomes da tecnologia e do entretenimento discutem suas crenças religiosas.

Para aqueles que buscam não apenas espiritualidade,mas também crescimento profissional,é uma chance de se aproximar de figuras poderosas do setor.

Thiel foi o palestrante principal do primeiro evento do ACTS 17,realizado em maio na casa de Garry Tan,CEO da Y Combinator,em São Francisco. Ele falou sobre como a teologia cristã influencia sua política e quais dos Dez Mandamentos ele considera mais significativos. (O primeiro e o último: "Adorar a Deus" e "Não cobiçar o que é dos outros"). Um DJ ajudou a criar o clima,mixando músicas religiosas para os mais de 200 participantes.

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Em outubro,a organização realizou outro evento na casa de Tan,desta vez com o Dr. Francis Collins,ex-diretor do Instituto Nacional de Saúde dos EUA,que há muito fala sobre como reconcilia a ciência com sua fé cristã. Stephens está planejando mais eventos em São Francisco e também um em Los Angeles,tendo entrado em contato com possíveis palestrantes como Pat Gelsinger,ex-CEO da Intel,e Ayaan Hirsi Ali,ativista e ex-muçulmana que se converteu ao cristianismo.

Garry Tan,que sediou eventos para a ACTS 17,uma organização sem fins lucrativos dedicada a introduzir o cristianismo ao mundo da tecnologia — Foto: Mike Kai Chen/The New York Times

O nome ACTS 17 é um acrônimo para "Acknowledging Christ in Technology and Society" (Reconhecendo Cristo na Tecnologia e na Sociedade),mas também faz referência ao capítulo 17 do livro de Atos da Bíblia,no qual o apóstolo Paulo percorre Atenas e Tessalônica para espalhar o Evangelho entre os "reis e rainhas da cultura" gregos – um paralelo com a elite abastada e influente que Stephens busca alcançar hoje. Ela reconhece que essa missão cristã pode parecer contraintuitiva.

— Sempre nos ensinaram,como cristãos,a servir os humildes,os marginalizados. Acho que percebemos que,se há algo que aprendemos,é que os ricos,os poderosos,os influentes também precisam de Jesus — disse Stephens.

Os executivos do Vale do Silício estão acostumados a perseguir o que é difícil de alcançar – fortuna,inovação,poder –,mas Deus raramente esteve no topo da lista. A região da Baía de São Francisco é uma das partes menos religiosas dos Estados Unidos,onde as pessoas costumam buscar satisfação espiritual por meio da meditação,ayahuasca,jejum intermitente ou banhos gelados.

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Um episódio da série da HBO Silicon Valley satirizou isso com um empresário gay chocado ao ser "desmascarado" como cristão.

Em um lugar construído sobre a ideia de superar as limitações humanas – onde as pessoas controlam tudo,desde a fertilidade até a exploração espacial,transformando até a mortalidade em um negócio –,o divino pode parecer,para alguns,obsoleto.

Música e culto na Epic Church,que Michelle Stephens,fundadora do ACTS 17,frequentam há anos,em São Francisco — Foto: Aaron Wojack/The New York Times

Thiel tem sido uma exceção ao ateísmo e agnosticismo predominantes entre seus pares. Ele já disse que sua fé cristã está no centro de sua visão de mundo,que ele expressa de uma maneira heterodoxa – misturando referências às Escrituras e à teoria política conservadora,interpretando sinais e milagres antigos e conectando-os às inovações tecnológicas atuais.

Em entrevistas recentes,ele mencionou profecias bíblicas para alertar sobre um "Anticristo",que,segundo ele,prometerá segurança contra ameaças existenciais,como inteligência artificial e guerra nuclear,mas trará algo muito pior: um governo mundial único. Procurado pela reportagem,Thiel recusou pedidos de entrevista via Stephens. Seu porta-voz não respondeu a um e-mail.

Outros nomes da tecnologia e do entretenimento também parecem estar abraçando a religião. No ano passado,Joe Rogan falou sobre a importância da fé em vários episódios de seu podcast,dizendo que já foi "bem ateu",mas se tornou mais espiritual após a morte de seu avô. "Com o tempo,as pessoas vão entender a necessidade de ter algum tipo de estrutura divina",disse Rogan em um episódio de fevereiro.

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— Muitas pessoas muito inteligentes descartam todos os aspectos positivos da religião — disse.

Elon Musk,em uma entrevista recente com Jordan Peterson – psicólogo que se tornou uma espécie de guru da masculinidade –,disse ser um "grande defensor dos princípios do cristianismo". Musk resumiu seu pensamento com um pequeno poema postado em sua plataforma,o X:

"O ateísmo deixou um espaço vazio / a religião secular tomou seu lugar / Talvez a religião não seja tão ruim / para evitar que você fique triste."

Elon Musk é um dos gurus da tecnologia e do entretenimento que parecem estar adotando a religião — Foto: Kenny Holston/The New York Times

O ACTS 17,que não está vinculado a nenhuma denominação religiosa específica,busca oferecer às pessoas uma introdução acessível à fé cristã. Seu site adota a estética típica das marcas voltadas para millennials,com imagens de pessoas bonitas vestindo jaquetas acolchoadas,conversando e sorrindo,ao lado de promessas inspiradoras em fontes modernas e flutuantes,como "redefinir o sucesso para aqueles que definem a cultura".

Se os rituais religiosos oferecem formas antigas de enfrentar tempos turbulentos,não é surpreendente que eles estejam ressurgindo agora no Vale do Silício,que parece estar passando por seu próprio ciclo de renascimento. No lugar das noites temáticas do Orgulho LGBTQ+ e das playlists do Mês da História Negra,agora vemos magnatas da tecnologia homenageando Donald Trump,criticando a "fragilidade" dos jovens trabalhadores e defendendo um retorno a uma era de maior natalidade.

Essa guinada política tem despertado ceticismo sobre a nova religiosidade na comunidade tech,até mesmo entre pensadores cristãos,que se perguntam se essa busca espiritual é mais conveniente do que genuína.

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— Quando você olha para a Bíblia,ela fala sobre apoiar os pobres,ajudar o próximo,acolher o estrangeiro — disse Anne Foerst,teóloga e cientista da computação da Universidade St. Bonaventure,em Nova York,e autora do livro God in the Machine ("Deus na Máquina",em tradução livre).

— Existe uma certa mentalidade entre alguns evangélicos de que,se você aceita Jesus como seu salvador,então você já está salvo. E aí você não precisa mais se preocupar – com a construção de drones,com a rejeição de estrangeiros,com a luta contra o 'politicamente correto',todas essas coisas — afirmou a autora.

Cristãos emblemáticos

Se um modelo de IA fosse imaginar um casal poderoso do Vale do Silício,poderia muito bem criar algo semelhante a Trae e Michelle Stephens. Eles vivem em uma área cênica de São Francisco,onde gostam de reunir os “reis e rainhas” da cultura local. Ambos transformaram temas que os consumiam em empreendimentos inovadores – no caso de Michelle Stephens,essa paixão foi a fé religiosa.

Na Epic Church,fiel segura a Bíblia e o celular — Foto: Aaron Wojack/The New York Times

Trae Stephens cresceu como neto de um pastor batista do sul em uma pequena cidade de Ohio. Michelle Stephens foi criada em uma família católica romana nos subúrbios da Filadélfia,com um pai que restaurava e reformava igrejas.

Os dois se conheceram na Universidade de Georgetown e se conectaram pelo papel que a fé desempenhava em suas vidas. Caminhavam longas distâncias discutindo a Bíblia e as diferenças em suas práticas religiosas – como o fato de Michelle Stephens rezar para a Virgem Maria,enquanto Trae Stephens orava diretamente a Deus.

Após a faculdade,Trae Stephens trabalhou como linguista computacional para serviços de inteligência dos EUA,enquanto Michelle Stephens atuava como enfermeira na unidade de terapia intensiva pediátrica. Em 2008,Trae Stephens recebeu uma oferta para ingressar na Palantir,hoje uma gigante da análise de dados.

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Ele ascendeu às elites do setor tecnológico. Em 2013,foi convidado por Peter Thiel,que financiava a Palantir,para se tornar um dos principais sócios da Founders Fund,sua firma de capital de risco. Mudou-se com a família para São Francisco e ajudou a fundar a Anduril,empresa que fabrica drones autônomos e embarcações subaquáticas,e que está prestes a receber um novo aporte de investimentos que a avaliará em US$ 28 bilhões.

A Founders Fund tem apoiado a Anduril desde o início. Michelle Stephens fundou uma empresa de saúde digital. Ao longo do caminho,o casal teve dois filhos,chamados carinhosamente por Trae Stephens de “os munchkins”.

Durante todo esse período,eles mantiveram sua fé,algo que os destacava no meio social do Vale do Silício. Era a primeira vez que viviam em um lugar onde frequentar a igreja não era a norma,lembrou Michelle Stephens,e onde às vezes se sentiam como os únicos cristãos do grupo.

Esse desejo de compartilhar suas crenças plantou a semente para a ACTS 17. Cada evento organizado pelo grupo apresenta uma conversa com uma figura de destaque que o público pode não saber que é cristã. Os encontros até agora atraíram pessoas devotas,afastadas da fé e até não cristãs. Os ingressos custam US$ 50,e os participantes são convidados por meio do boca a boca e das redes sociais.

— Depois de um evento da ACTS 17,tudo o que gostaríamos é que as pessoas presentes dessem um próximo passo em sua jornada de fé. Talvez nunca tenham ouvido falar de Jesus,e um próximo passo seja simplesmente ler a Bíblia — disse Michelle Stephens.

Michelle Stephens enfatiza que a ACTS 17 “não tem afiliação política”.

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— Não há uma agenda. Não há um movimento específico acontecendo aqui. Estamos apenas criando um espaço para que as pessoas explorem essas grandes questões,para as quais não estão encontrando respostas no mundo atual,na ordem social vigente — disse ela.

Ela acrescentou que o grupo não pretende discutir questões políticas,embora reconheça que elas não podem ser completamente evitadas.

— Não há nada que orientemos o moderador a perguntar ou não perguntar – tudo está em jogo. Pedimos a Deus que guie os moderadores e os palestrantes — afirmou.

Ainda assim,a política,ou pelo menos seu reflexo,é inevitável quando Peter Thiel está na origem do grupo. Um libertário declarado,Thiel foi um dos primeiros apoiadores de Donald Trump em 2016,e o vice-presidente JD Vance está entre seus discípulos. Ele também parece reconhecer a força que surge de uma aliança entre conservadores políticos e religiosos.

— A coalizão de Reagan era,de alguma forma,composta pelos libertários do livre mercado,os falcões da defesa e os conservadores sociais. O que o milionário,o general e o padre realmente têm em comum? — disse Thiel em uma recente entrevista ao economista Tyler Cowen.

Ele continuou:

— No entanto,a coalizão funcionou incrivelmente bem,e a resposta que proponho é que eles eram todos anticomunistas e tinham um inimigo em comum.

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