Especialista alertam que temperatura alcançará níveis superiores aos que o corpo suporta sem sentir, no mínimo, mal-estar

2025-02-14 IDOPRESS

Passageiros procuram se proteger do sol quente na sombra de um poste em ponto de ônibus da Avenida Presidente Vargas,na Cidade Nova — Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 13/02/2025 - 19:22

Onda de Calor Extremo no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro enfrenta uma onda de calor extremo devido a uma combinação de fatores,como a ilha urbana de calor e influências geográficas. Temperaturas acima do suportável podem atingir 40ºC,com sensação térmica de até 62,7ºC. A falta de chuva e a alta umidade pioram a situação,sem alívio à vista até março.

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O maçarico está ligado no Brasil,sob intensa onda de calor,mas a Região Metropolitana do Rio de Janeiro,em especial a capital,ferve ainda mais. A receita para o sufoco combina os mesmos fatores que cozinham em fogo alto a maior parte do país com peculiaridades locais. O resultado é que,até pelo menos o fim da próxima semana,a temperatura alcançará níveis superiores aos que o corpo humano suporta sem sentir,no mínimo,mal-estar,alertam cientistas.

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Frequentador assíduo do topo do ranking das capitais mais quentes do país,o Rio estará entre as cidades com as maiores máximas,de acordo com as previsões dos principais serviços de meteorologia. Para próxima segunda-feira,por exemplo,o Instituto Nacional de Meteorologia (Inemet) prevê 40C.

— Na verdade,não é totalmente conhecido porque o Rio de Janeiro é tão mais quente. É uma soma complexa de fatores que faz com que tenhamos calor terrível — afirma Wallace Menezes,professor de meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

As praias do Rio seguem lotadas de pessoas que tentam se refrescar no calor — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Caldeirão à carioca

Ele explica que há a ilha urbana de calor — a estufa urbana feita de asfalto,emissões de veículos e indústrias e prédios. Além disso,aspectos da geografia,como o relevo,influenciam. Tanto a capital quanto a também tórrida Baixada Fluminense ficam em terreno baixo,cercado por montanhas. O calor fica confinado.

E,quando há condições atmosféricas de grande escala favoráveis às altas temperaturas,como o sistema de alta pressão atual,fica horrível,frisa Menezes.

Barraqueiros fazem trilhas de água na areia para que as pessoas consigam caminhar até as barracas sob o sol — Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo

A alta pressão,ou anticiclone,esquenta o ar por compressão. O sistema empurra e comprime o ar para baixo e faz com que esquente e seque nesse processo,impedindo a formação de nuvens. E o ar seco ainda esquenta mais depressa com a radiação do Sol.

— É uma soma de fatores. O Rio vira um caldeirão,que precisa ser estudado — enfatiza Menezes.

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Se não bastasse,o Rio está no fim da linha dos rios voadores da Amazônia. O diretor de operações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais,o meteorologista Marcelo Seluchi,diz que eles já chegam no estado desprovidos de muito de sua umidade,perdida ao longo do caminho,mas com o calor amazônico em ponto de bala. O motivo é que existe uma relação entre temperatura e umidade chamada temperatura potencial equivalente. Se parte da umidade é perdida,a temperatura aumenta.

Suplício térmico

Espera-se na capital temperaturas diárias superiores a 36ºC — medidos na sombra — e sensação térmica acima de 50ºC. Vale sempre lembrar que nas ruas,sob o sol,a temperatura é maior que a aferida pelas estações meteorológicas. Por padronização,elas ficam em locais à sombra nas horas mais quentes e com sensores a pelo menos 1,5 metro do solo.

Os 40ºC de máxima previstos pelo Inmet para a próxima segunda-feira,com até 80% de umidade,podem significar uma intolerável sensação térmica de 62,7ºC,se a máxima coincidir com 60% de umidade. Mas nem precisa tanto: 39ºC com 50% são suficientes para se chegar a 51,6ºC de sensação térmica.

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Muito antes disso qualquer pessoa sente mal-estar. A tolerância ao calor varia de um indivíduo para outro. Mas o risco,independentemente da idade e da boa saúde,começa quando a temperatura do ar supera a do corpo humano,de 36,5ºC,ensina Fábio Gonçalves,professor de biometeorologia da Universidade de São Paulo (USP),um dos maiores especialistas do Brasil em conforto térmico.

Acima de sua própria temperatura,o corpo precisa trabalhar mais para se manter em equilíbrio. Com a temperatura igual ou superior a 37ºC com mais de 70% de umidade do ar,qualquer pessoa pode ter problemas de saúde,diz Gonçalves.

É prevista também umidade alta,o que amplifica o desconforto térmico porque o suor não evapora levando o calor que o corpo tenta expelir embora. Porém,não há previsão de chuva capaz de fazer o termômetro baixar um pouco. Seluchi diz que os modelos descartam a chance de frentes frias ou uma Zona de Convergência do Atlântico Sul nos próximos dez dias.

Verão a seco

O Rio,na verdade,tem tido um verão sem chuva. Dados revelados com exclusividade pela pesquisadora do Cemaden Ana Paula Cunha mostram que de 1º de janeiro a 10 de fevereiro,em cerca da metade da capital choveu 33% a 40% da média. Nem a metade do que deveria.

Além disso,a chuva está concentrada. De 1º de novembro a 10 de fevereiro,a cidade do Rio teve 71 dias sem chuva. Mas observar apenas a média oferece uma visão enganosa. O percentual de chuva está entre 70% e 80% da média. Mas a maioria dos dias (71 de 102) foi seca.

— Podemos inferir que as chuvas foram muito concentradas. Isso favorece desastres por excesso de água,ainda que esteja chovendo abaixo da média — salienta Cunha.

Mar sem refresco

Resta o mar,mas ele não está para refresco. O Atlântico influencia muito o clima do Rio e,nesta época do ano,seria esperado que estivesse bem mais frio do que o continente. Isso ajudaria a gerar vento e a reduzir a temperatura.

Mas o Atlântico está muito quente. A brisa marinha é resultado do contraste da temperatura da água mais fria do mar com a quentura da terra; mas agora ambos estão muito quentes,e ela praticamente desaparece.

Alívio de verdade não é esperado antes de março.

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