2025-02-12
IDOPRESS
Abic afirma que 'café fake' tem palha,pedaço de madeira e casca. Procuradas,fabricantes não retornaram — Foto: Montagem de fotos
GERADO EM: 11/02/2025 - 21:45
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
O preço chamou a atenção de consumidores da cidade de Bauru,interior de São Paulo,neste início de ano: enquanto meio quilo de café custa quase R$ 30,um pacote que se assemelha a marcas conhecidas do produto era vendido por R$ 13,99,menos da metade do preço. A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) faz o alerta: não se trata de café,mas de bebida que imita café e pode ter em sua composição impurezas como palha,pedaços de madeira e cascas.
Café,carnes,ovos em alta? Veja o que vem por aí nos preços de alimentosAumento: Consumo de café cresce 1,1% no Brasil em 2024,mesmo com alta de preços
As imagens do produto viralizaram nas redes sociais e a produto passou a ser chamado de “cafake”,o “café fake”.
— Fazemos mais de 5 mil análises por ano de café de produtores associados e não associados,mas neste início de ano nos deparamos com esse produto,que conhecemos pouco. É uma bebida que é à base de café,mas não é café. Isso trouxe preocupação — disse ao GLOBO,Celírio Inácio da Silva,diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Café: Preços seguem em alta e valor pago ao produtor atinge maior patamar em 28 anos
O preço do café subiu 37,4% no ano passado,um dos destaques de alta na inflação. Como o produto é consumido em 98% dos lares,Celírio avalia que “pessoas criativas” aproveitaram e criaram a bebida fake,que custa metade do preço,para buscar lucro fácil e enganar o consumidor.
Por isso,a Abic notificou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura sobre a venda das bebidas que,segundo a entidade,não teriam autorização. A Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) foi alertada. Foram encontrados pacotes da bebida à base de café também em cidades do Rio Grande do Sul.
Entre os “café fakes” encontrados está a marca Oficial do Brasil. Em seu rótulo,o produto é descrito como “bebida sabor café” e “pó para preparo de bebida à base de café”. Outro exemplo é o Melissa,que tem nome e embalagem semelhantes a uma marca conhecida,a Melitta.
Aneel: Bônus de Itaipu é suficiente para cobrir déficit de US$ 121 milhões e reduzir conta de luz
Uma checagem do rótulo mostra que se trata de “pó para preparo de bebida sabor tradicional” e que o produto “contém aromatizante sintético idêntico ao natural”.
Procurada a respeito da semelhança nas embalagens,a Melitta informou que “está tomando as providências necessárias para defender sua propriedade de marca e seus direitos”. E acrescenta que reforça o compromisso com ética,qualidade e segurança de produto.
A Master Blends,fabricante da Oficial do Brasil,localizada na cidade paulista de Salto de Pirapora,não respondeu. A empresa disse à agência Reuters que criou “subproduto” do café,deixando claro na embalagem,e disse que não aceita que digam que está enganando os consumidores.
Especificação sobre o produto no verso da embalagem do café tradicional — Foto: Letícia Lopes
“Em momento algum falamos que é café,criamos apenas um subproduto para atender uma classe que está sofrendo a cada dia que passa,este produto é composto de café e polpa de café torrado e moído,está escrito ‘bebida à base de café’ na frente e também atrás da embalagem”,afirmou na nota a Master Blends. A DM Alimentos,com sede no Paraná,que fabrica a Melissa,não retornou.
A legislação sanitária prevê que a oferta de novos alimentos e ingredientes ao consumidor requer autorização prévia da Anvisa,com comprovação de segurança do produto. O comércio irregular e o consumo de produtos clandestinos por empresas sem registro nos órgãos oficiais viola a legislação,diz a Abic em nota. Procurada,a Anvisa não comentou.
IPCA: Inflação cai para 0,16% em janeiro,menor taxa para o mês desde 1994
Karine Karam,professora de Pesquisa e Comportamento do Consumidor da ESPM e sócia da Markka Consultoria,diz que a indústria pode pensar em alternativas para atender o consumidor quando há alta de preços. A redução do tamanho das embalagens,por exemplo,é estratégia que muitas marcas usam para evitar repassar todo o aumento de custos ao consumidor. Mas,alerta a especialista,é preciso ser transparente:
— É importante que essas práticas sejam transparentes e éticas. O consumidor merece saber o que está comprando e ter a garantia de que está recebendo um produto de qualidade. Uma empresa que usa uma estratégia fake não terá vida longa no mercado.
A discussão sobre substituir alimentos que aumentaram de preço ganhou atenção depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu semana passada que consumidores deixassem de comprar produtos que estivessem caros,substituindo-os por outros.
O que chamou a atenção da Abic é que os pacotes do “café fake” estavam na mesma prateleira do produto original. O Procon/SP ainda não registrou reclamações sobre o tema. Mas a área de fiscalização do órgão orienta que quem encontrar produtos com rótulo inadequado pode registrar reclamação nos órgãos de defesa do consumidor.