2025-02-06
HaiPress
'Um dia sem mexicanos',filme de Sergio Arau — Foto: Divulgação
GERADO EM: 05/02/2025 - 19:07
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Um dia Mary Jo Quintana — branca,loura,olhos azuis,casada com músico — acorda e descobre que o marido,Bob,da banda Los Perros Mojados,evaporou. Tomou chá de sumiço. Bob às vezes até desaparece,reconhece Mary Jo,chorosa diante da câmera,mas sumir assim nunca sumiu. Bob é mexicano,e Mary Jo não é a única com problemas. Por toda a Califórnia,das pequenas cidades aos grandes centros,dos menores muquifos à imponente mansão do senador Steven Abercombie III — onde a babá Catalina é praticamente uma pessoa da família —,todos os mexicanos sumiram.
É o caos.
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De repente não há mais ninguém para estacionar carros,tocar as tinturarias,cozinhar e servir nos restaurantes,atender pacientes nos hospitais,limpar as ruas. O âncora do telejornal some. O governador também. Os carros batem,o lixo se acumula,as frutas apodrecem no pé. Não há mais quem faça os mapas do tempo na emissora local. Na fronteira,policiais do serviço de imigração não sabem o que fazer,já que o seu trabalho,em tese,acabou.
Lançado em 2004,“Um dia sem mexicanos” continua inacreditavelmente atual. É um filme pequeno e artesanal,por vezes tosco,um mockumentary feito com um orçamento minúsculo — mas,nessa semana,me pareceu melhor ainda do que quando o vi na estreia. Nunca me esqueci dele e,por motivos óbvios,resolvi revisitá-lo. Ele cresceu graças à realidade atual e a um certo elemento de nostalgia.
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Também foi divertido rever os celulares do mundo pré-iPhone,especialmente o StarTAC e aquele X430 da Samsung (seria ele mesmo?).
Longa de estreia de Sergio Arau (filho do diretor Afonso Arau,de “Como água para chocolate”),“Um dia sem mexicanos” nasceu de um curta homônimo de 1998. A meia hora básica foi esticada e ganhou tramas paralelas. Na época,muitos críticos reclamaram que a piada já havia sido contada no curta e descascaram o longa.
'Um dia sem mexicanos',filme de Sergio Arau — Foto: Divulgação
O pobre longa,aliás,é um fracasso completo no Rotten Tomatoes (27% de críticas positivas) e no Metacritic (30). Discordo. Sim,o roteiro tem furos; sim,a filmagem chega às raias da indigência; sim,as atuações nem sempre convencem. Só que,em parte,é exatamente aí que está a graça. A precariedade faz parte do enredo. E,ora,é preciso ter disposição para aceitar as histórias pelo que elas nos oferecem. “Um dia sem mexicanos” é uma sátira escrachada que em nenhum momento pretende ser outra coisa.
Não dá para pedir lógica a um filme em que a Califórnia é isolada do mundo por um misterioso nevoeiro cor-de-rosa,e em que as pessoas simplesmente somem no ar. Por que sumiram? Por que reapareceram? Como as frutas se estragaram tão rápido? O que significa aquela torneira pingando? Por que os tomates viraram itens de traficantes?
Calma. É só uma história! A vovozinha pode sair viva da barriga do lobo.
No YouTube há duas ou três cópias dubladas em português (todas péssimas),além de uma versão um pouco melhor em inglês,com legendas em espanhol.
Agora preciso rever “Idiocracy”.
