2025-01-17 IDOPRESS
Drone combina visão computacional,IA e voos automatizados para identificar anomalias em plataformas de petróleo — Foto: Divulgação
Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) publicado no ano passado buscou projetar as consequências da inteligência artificial (IA) nos mercados de trabalho da América Latina e do Caribe. Análises anteriores davam peso à automatização de tarefas,esquecendo que a nova tecnologia tem aplicação sobretudo na ampliação das funções cognitivas. Os autores fizeram um esforço para incorporar na análise as chances de adoção,levando em conta a arquitetura regulatória. Concluíram que cerca de 84 milhões de postos de trabalho na América Latina e no Caribe estarão expostos à IA no prazo de um ano. Como a tendência é o avanço contínuo da tecnologia,os afetados aumentam com o passar do tempo. Em cinco anos,para 114 milhões. Em dez anos,para 132 milhões.
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Estar exposto não significa necessariamente perda de emprego ou obsolescência. Apenas que as atividades têm maiores chances de passar por grandes transformações. Na lista das mais suscetíveis,há representantes de diferentes setores. No industrial,operadores de máquinas no setor calçadista,têxtil,de embalagens e retificação,além de preparadores de ferramentas. Nos serviços,caixas de supermercados e lojas,funcionários de empresas de contabilidade ou auditoria. Funcionários do setor de compras,atividade mais complexa,também correm riscos. Entre as atividades menos expostas estão cirurgiões,enfermeiros,professores,bombeiros,policiais,assistentes sociais e juízes. Na área médica,há nuances. Enquanto pediatras parecem imunes ao avanço da IA,em razão da maior interação com os pacientes,radiologistas e dermatologistas tendem a sofrer impacto maior.
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Mesmo entusiastas da IA mais otimistas reconhecem os obstáculos. Até poucos meses atrás,bastava às empresas de tecnologia aumentar a quantidade de dados e de hardware para treinar modelos maiores. Parece claro agora que os resultados dessa estratégia são declinantes. Os cientistas terão de desenvolver novas técnicas para superar os desafios que começam a surgir.
A incapacidade de prever a velocidade com que as barreiras serão vencidas é apenas uma das limitações intrínsecas do estudo do BID. A análise tampouco leva em conta efeitos indiretos,como a queda da demanda de serviços que o uso da IA poderá trazer (se houver menos incêndios com o uso inteligente da eletricidade,haverá menos demanda por bombeiros,uma das profissões tidas como pouco expostas). As projeções são,contudo,um instrumento valioso para formuladores de políticas públicas. Com mais e melhores análises,ficará mais fácil decidir que intervenções adotar na educação ou no treinamento de profissionais para mitigar os efeitos negativos da nova tecnologia. A IA precisa ser encarada mais como oportunidade do que como ameaça.