Entrevista: Nikolas diz que Bolsonaro 'não faz milagre', vê desconexão de Nunes com a direita e reconhece carisma de Lula

2024-09-15 HaiPress

'O problema talvez nem seja o Marçal,e sim o Nunes',diz Nikolas Ferreira,sobre eleição de SP: parlamentar do PL está ativo em campanhas municipais — Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputados

RESUMO

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GERADO EM: 15/09/2024 - 03:30

Deputado Nikolas critica apoio a Nunes,destaca carisma de Lula e lamenta esvaziamento de comissões na Câmara

Deputado Nikolas critica apoio de Bolsonaro a Ricardo Nunes,reconhece carisma de Lula e destaca falta de conexão de Nunes com a direita. Desaprova uso de sua imagem por Marçal e lamenta esvaziamento das comissões por Lira na Câmara. Nikolas vê Marçal como antissistema e analisa cenário político em São Paulo. Posiciona-se sobre apoios e gestão na Comissão de Educação. Aponta esvaziamento das comissões como problema na Casa.

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Um dos principais cabos eleitorais do PL,o deputado Nikolas Ferreira (MG) afirma ao GLOBO que o ex-presidente Jair Bolsonaro,de quem é aliado,tem força na campanha municipal,mas “não faz milagre”. A declaração ocorreu enquanto o parlamentar criticava a candidatura à reeleição para a prefeitura de São Paulo de Ricardo Nunes (MDB). Para o deputado,a figura de Nunes não tem “conexão” com a direita. Nikolas,contudo,não cede ao postulante que divide votos no mesmo campo político,Pablo Marçal (PRTB). Diz que ligou recentemente para o empresário para “esculachar” porque não gostou de ter sido atrelado à campanha do ex-coach em um “corte” nas redes sociais.

Após recusar acordo: Nikolas terá que explicar ao STF fala em que chamou Lula de 'ladrão'‘O meu voto é do Bolsonaro e não de nenhum ministro do STF’: Ao lado de ex-presidente,Nikolas ataca o Supremo em BH:

O senhor entrou na campanha pelo Brasil,assim como Bolsonaro,mas há dificuldades,como no Rio e em São Paulo. Bolsonaro perdeu a capacidade de mobilização?

O cenário político muda. A capacidade de mobilização do Bolsonaro ou a popularidade dele não se perderam. O Bolsonaro gera apoio,só que ele não faz milagre,ele não é santo. O apoio do Bolsonaro,assim como o meu,só é válido quando a pessoa que ele está apoiando gera conexão com o eleitorado dele. O Nunes não tem conseguido gerar uma conexão. O problema talvez nem seja o Marçal,talvez seja o Nunes. Se o candidato fosse,por exemplo,o (Ricardo) Salles ou Eduardo Bolsonaro,eu estaria fazendo campanha. Não surgiria esse “vácuo Marçal”. Havia uma cadeira vazia,e ele sentou. No Rio é outro cenário. Não dá para colocar todas as candidaturas em uma mesma forma. O (Eduardo) Paes (adversário de Alexandre Ramagem) tem uma popularidade muito grande,ao lado do presidente Lula.

E como tem sido a articulação com o PL sobre a sua atuação na campanha municipal?

Vamos deixar claro: a maioria dos candidatos que eu estou apoiando não é por convocação do PL. Há uma pequena porcentagem,menos de 10%,de candidatos que de fato o Valdemar (Costa Neto,presidente da sigla) me pediu para ir. Estou indo de forma voluntária nos locais onde há pessoas em que eu acredito,que são amigos meus aqui da Câmara.

Marçal é uma dessas pessoas?

Não. Eu não estou fazendo campanha para o Marçal nem para o Nunes.

Mas o senhor não “fez o M” (gesto de Marçal) no 7/9?

Não. E fui inocente. Eu estava em um caminhão. Toda hora que eu ia para a borda,tinha uma trupe gigantesca de gente com o boné do “M” gritando: “Boulos ou M?”. Eu estava ignorando,mas era uma situação difícil. E aí,pela terceira vez,gritaram “Boulos ou M?”. E aí,irmão,Boulos ou M,é M. Só que caí no corte (do Marçal),tinha alguém com o celular. Tanto que eu faço rapidinho. É óbvio que ele aproveitou nas redes dele.

O senhor se posicionou sobre o uso da imagem na campanha?

Eu liguei para ele (Marçal) esculachando sobre a questão do vídeo,com “7 de Setembro com o futuro prefeito de São Paulo”. Eu falei: “Você está de sacanagem,né?”. Chegou no final (da manifestação) e se colocou como o dono da festa,não convocou (as pessoas para o ato). No mínimo,é malicioso. Ele falou que também achou malicioso,que tinha sido a equipe,mas por que postou,então? Eu falei que não achava legal,porque se der um segundo turno entre (Guilherme) Boulos e Marçal,é um dever moral meu ficar com o Marçal. Então,eu não sou estúpido de bater em um cara que daqui a pouco eu posso ter que apoiar.

Qual seria o cenário ideal em São Paulo? Seria Bolsonaro rever o apoio ao Nunes?

O que eu sinto é que ele (Marçal) está entrando no espaço cognitivo das pessoas como antissistema para poder pavimentar o caminho dele em 2026. Se em 2026 o Bolsonaro não ficar elegível,vai acontecer o efeito Nunes 2.0. Ele desgastou o Tarcísio agora (que entrou na campanha de Nunes) com uma finalidade posterior,que é a Presidência da República. O Pablo,ganhando a prefeitura ou não,vai continuar trilhando esse projeto de antissistema. Em 2026,o Bolsonaro,óbvio,vai ficar do lado do Tarcísio. Vai gerar o mesmo problema de agora. Ele é um cara que planeja as coisas.

O que Bolsonaro deveria fazer?

Não sei quais são os termos para o Bolsonaro estar apoiando,o que foi apalavrado. Eu só acho que não vale a pena. Só quem está se ferrando nisso é o Bolsonaro. O Tarcísio também,ok,mas ele é governador. O Bolsonaro,não.

Pelo seu raciocínio,o Marçal não é uma pessoa confiável.

Sinto que as pessoas preferem dar chance ao duvidoso a votar no Nunes,que não tem conexão com a gente. Não é que ele não seja confiável,acho que ele não passou no crivo do tempo. A direita erra muito nesse sentido.

Como vê a divisão na direita?

O Pablo está longe de ser um novo Bolsonaro,esquece. A figura do Bolsonaro foi contra tudo e contra todos. Por mais que as pessoas estejam um pouco chateadas por conta de São Paulo,ainda está no coração das pessoas,como se fosse pessoal. O Bolsonaro tem um trem que eu não sei explicar. Ele tem um sangue de barata,ele sabe apanhar,isso é uma virtude. O Lula também tem isso. Ele falou de Israel no meio da crise internacional,pau quebrando,e ele se manteve. Isso é uma virtude de quem é governante,de quem sabe aguentar pancada. Não subestime o Bolsonaro,ele é um líder carismático. E líder carismático no Brasil é de 100 em 100 anos. O Lula é líder carismático. Também jamais subestime a força dele.

Em São Paulo,o senhor está com quem?

No segundo turno estou com qualquer um que vá contra o Boulos.

A tramitação do PL da Anistia está atrelada à sucessão de Câmara e Senado?

O PL da Anistia está sendo uma barganha política,está sendo usado por todos os candidatos. Mas existem outros pontos que vão ser colocados na mesa. Também tem a possibilidade de (o PL) lançar um candidato. Se nenhum candidato à presidência da Câmara aceitar as nossas condições,a gente lança.

É uma posição do Nikolas,do Valdemar ou da bancada?

É uma posição do Nikolas e de uma grande parte da bancada. Agora,qual é a posição do Bolsonaro e do Valdemar,meu amigo,não faço ideia.

Qual o balanço que o senhor faz à frente da Comissão de Educação,da qual é presidente?

Acredito que eu tenha dado uma resposta àqueles que diziam sobre capacidade,gestão. Estabeleci diretrizes e me reuni toda semana com os deputados de oposição e de situação para poder bater a pauta. Cedi relatorias para diversos deputados,desde Tabata Amaral até Paulo Bilynskyj,ou seja,dois lados completamente diferentes de espectros políticos.

A gestão Arthur Lira é recordista em aprovação de urgência. As comissões foram esvaziadas?

O modus operandi tem me deixado insatisfeito. O que acontece é o Lira fazer uma Comissão Especial,o tema é discutido,mas nem sempre tem a proporcionalidade partidária ali,não tem um amplo debate. Ela dá o parecer como se fosse o parecer da Câmara. Ele joga (a proposta) para plenário e diz que a Câmara já decidiu. Atropela e fica desconfortável. As comissões,pior ainda,estão esvaziadas,não têm mais efeito prático. No caso do PNE (Plano Nacional de Educação),eu conversei com o Lira que não tinha condição de não passar pela Comissão de Educação. Caso contrário,fecha as comissões.

E qual é a resposta dele?

É genérica. Ele sempre fala que está sendo feito,colocado,debatido,mas ele se utiliza desse instrumento. Deveria ser uma exceção,e não regra. Há um diálogo de barganha. Está muito ruim. As comissões estão realmente esvaziadas. E,ainda assim,muitas das coisas que são passadas aqui não vão para o plenário,porque tem que ter esse meio de campo com o presidente (da República).

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