2024-09-07 HaiPress
Amy Allen,compositora por trás de sucessos de Sabrina Carpenter,Harrt Styles,Shwan Mendes e Selena Gomez — Foto: Adali Schell/NYT
GERADO EM: 07/09/2024 - 04:30
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Alguns palavrões bem colocados podem fazer uma música pop estourar. Mas poucos palavrões na memória recente mudaram tanto uma carreira quanto aqueles cantados por Sabrina Carpenter,uma ex-estrela do Disney Channel,em "Please Please Please",sua mistura de Dolly Parton e Abba que se tornou um hit surpresa.
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Na versão para as rádios,o refrão ganhou um tom mais leve: “I beg you,don’t embarrass me,little sucker" ("Eu imploro,não me envergonhe,seu idiota",em tradução livre). Mas no streaming e na boca dos fãs,a rima é um conhecido palavrão em inglês mais comum em filmes de Tarantino do que em canções pop açucaradas.
Sabrina Carpenter convence,mas ela teve ajuda. Uma voz brincalhona e desbocada em seu ouvido insistiu que uma estrela pop hoje em dia poderia atualizar o charme de Dolly Parton para os tempos do TikTok,ou incluir uma frase dadaísta como “that’s that me espresso” no léxico cultural.
— Cinco anos atrás,eu nunca pensaria que isso era OK — disse Amy Allen,autora de “Please Please Please”,“Espresso” e todas as outras faixas do álbum “Short n’ Sweet”,que estreou no topo da parada da Billboard esta semana. Mas o Top 40,em grande parte graças a Allen,está entrando em uma era peculiar,com choques inesperados cortando o conteúdo suave.
— Agora eu me assusto com canções genéricas que soam como nº 1. Os ouvintes estão ficando cada vez mais espertos agora. Eles querem algo estranho,algo fora do comum,algo realmente cativante e inesperado na letra ou melodia. Os dias do pop realmente polido estão mudando.
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Allen,de 32 anos,conseguiu seu primeiro hit no topo das paradas com “Without Me”,de Halsey,cinco anos atrás. Agora uma presença constante nos bastidores da lista A do pop,depois de anos de trabalho árduo em todos os cantos do labirinto da indústria,ela dominou o processo.
Allen começou cantando em pequenos bares de Windham,Maine; estudou enfermagem no Boston College e foi uma concorrente malsucedida no "The Voice". Então se transferiu para o Berklee College of Music enquanto liderava uma banda de pop-rock em busca de um contrato de gravação e chegou a ser aposta de uma grande gravadora como artista solo. Hoje,assume a persona de uma cantora e compositora indie lançando um álbum de estreia homônimo na sexta-feira.
Ao longo do caminho,Allen se tornou a compositora nos bastidores do mundo que definiu o tom do momento. Seu objetivo era se juntar a uma linhagem que inclui Max Martin,Dr. Luke,Esther Dean,Sia,The-Dream,Benny Blanco,Julia Michaels e muitos outros.
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Em relativo anonimato,Allen escreveu músicas para (e com) Selena Gomez,Lizzo,Olivia Rodrigo,Justin Timberlake,Shawn Mendes e outros,ganhando um Grammy de álbum do ano pelo seu trabalho em "Harry's House,de Harry Styles —,e uma indicação para compositora do ano,por faixas com King Princess e Charli XCX,em 2023. (O prêmio foi para Tobias Jesso Jr.,outro cantor e compositor indie que virou hitmaker.)
As impressões digitais do trabalho de Allen,assim como seu perfil público,permaneceram quase invisíveis até que se acumularam em uma mancha inconfundível e bem-vinda no brilho superficial da música mainstream. Os sucessos iniciais de Carpenter ("Feather") e Tate McCrae ("10:35",com Tiësto) eram açucarados com uma mordida sutil (“Your signals are mixed,you act like a bitch/you fit every stereotype,‘Send a pic’”). Abriram espaço para avanços mais estranhos e pesados em "Greedy",de McCrae,"Espresso" e "Please Please Please",de Sabrina Carpenter,que fizeram o pop do meio (notavelmente branco) efervescer novamente.
— Ela é uma mestre óbvia do pop,mas seu impulso é fazer algo que seja um pouco mais único,sempre — diz Ethan Gruska,um compositor e produtor que trabalhou com Allen em sua música solo. — O legal é que às vezes na esfera do pop Top 40 as pessoas sentem a necessidade de simplificar. Mas ela simplesmente entra e segue seu instinto.
Amy Allen,compositora de hits de Sabrina Carpenter e Harry Styles — Foto: Adali Schell/NYT
Gruska destacou o senso de “contorno melódico” de Allen — a maneira como ela entrelaça notas inesperadas e intervalos saltados em algo com uma “forma incomum” — citando o desvio no refrão de “Please Please Please”.
Os dois modos profissionais de Allen são separados,mas complementares. Inspirada pelas "garotas dos anos 90" — Sheryl Crow,Alanis Morissette,Melissa Etheridge — e também Cocteau Twins e Edie Brickell,ela tende a escrever suas próprias canções melancólicas à mão em um caderno como poemas. Como compositora contratada,ela é mais econômica,geralmente digitando em um iPhone e indo para o refrão primeiro (porque senão qual é o sentido?).
Mas ambos os tipos de composição geralmente começam com a mesma habilidade não musical: fofocar sobre a vida pessoal uma da outra ou,no jargão da indústria,ser "boa de sala".
Jack Antonoff,o compositor e produtor que trabalhou no álbum de Sabrina Carpenter com Allen,a chamou de "simplesmente imperturbável e segura de si",sem ego na busca por uma música. "Há algo meio estoico nela",diz ele. Allen,que prefere tratar a composição como um trabalho das 9 às 5,desafiando as sessões noturnas padrão da indústria,diz: "Eu também ouço muito 'militante'."
Outra colaboradora no álbum de Carpenter,Julia Michaels,lembra de Allen se iluminando no estúdio quando realmente gostava de algo,"mexendo seus quadris fofos" e invoca a personagem Penny Lane de "Quase Famosos" "em termos de quão bonita,despreocupada e cheia de vida ela é".
Para Allen,a oportunidade de escrever um álbum inteiro ao lado de alguém como Sabrina Carpenter não era algo garantido,e sua ascensão como compositora reflete,de muitas maneiras,o arco recente de sua profissão.
No início,ela conseguiu espaço com demos escritas e gravadas com produtores que eram então oferecidas a vários artistas que poderiam montar sua própria versão. "Eu não estava na sala com os artistas",diz ela. Grande parte do trabalho era permanecer invisível,permitindo que as narrativas existentes de estrelas pop vendessem a música aos fãs.
Mas o sucesso de faixas como "Back to You" de Selena Gomez,o primeiro hit Top 40 de Allen,e "Without Me",a levaram a um escalão superior. Ela cita a desmistificação contínua da composição pop por meio de streaming e das redes sociais — tudo isso puxa a cortina — e a pandemia,que tirou os artistas da estrada (cortando uma fonte de renda no processo).
Passar um tempo no estúdio com Mendes e Styles “mudou o jogo para mim em termos do que significa ser um compositor e o quanto disso é ser um estudante do artista com quem você está trabalhando”,diz Allen. “Há muito mais longevidade em fazer isso com o artista e descobrir como contar a história dele enquanto você também conta a sua. E,obviamente,se é algo que eles ajudaram a criar,então eles ficam mais animados para promover.”