2024-09-04 HaiPress
“Queremos promover a narrativa de que os homens asiáticos são desejáveis”,diz Manny Jacinto,que viveu vilão sedutor em série de Star Wars — Foto: Ricardo Nagaoka/The New York Times
GERADO EM: 04/09/2024 - 03:30
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Não faz muito tempo que o ator e roteirista Joel Kim Booster começou a participar de testes,mas logo percebeu que os papéis disponíveis para ele eram muito limitados. “É o que temos,não importa quantos entregadores de comida chinesa você faça”,ele se lembra de ter sido informado por outros atores asiático-americanos. Mas Booster continuou a trabalhar. E,finalmente,em 2022,interpretou um homem asiático-americano gay em “Fire Island: orgulho & sedução”,inovadora comédia romântica que ele também escreveu.
— Grande parte deste filme é apenas uma transcrição literal da minha vida — diz Booster.
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No fim das contas,as coisas melhoraram um pouco para os homens asiático-americanos em Hollywood nos últimos anos. Muitas das mais recentes histórias asiáticas filmadas nos EUA parecem não se preocupar com “o olhar branco”,diz Booster,acrescentando que,hoje,seu filme “parece um pouco retrógrado”.
Joel Kim Booster escreveu e estrelou “Fire Island”,comédia romântica gay: “Transcrição da minha vida” — Foto: Ricardo Nagaoka/The New York Times
De fato,desde que “Podres de ricos” (no original,“Crazy rich Asians”) tornou-se um sucesso de bilheteria em 2018,histórias e personagens asiáticos proliferaram na cultura pop americana. E,após décadas de retratos degradantes,muitas vezes emasculados,homens de origem asiática estão interpretando o tipo de herói bonitão que Hollywood manteve por muito tempo fora de seu alcance.
No ano em que “Podres de ricos” estreou,“Insecure”,da HBO,apresentou Alexander Hodge como o personagem Gato Asiático. No ano seguinte,Randall Park coestrelou com Ali Wong “Meu eterno talvez”,que Park e Wong escreveram com Michael Golamco. E,em 2021,Jimmy O. Yang estrelou uma comédia romântica de Natal,“Um match surpresa”.
Em 2023,Park dirigiu “Caminhos tortos”,filme em que Justin H. Min faz um protagonista angustiado e cheio de falhas. Em 2024 chegou “Dìdi”,filme dirigido por Sean Wang que oferece uma visão de como foi crescer como asiático-americano nos primeiros dias das redes sociais em meio à cultura do skate na Califórnia.
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As ondas podem ser cíclicas,e aqueles que estudam cinema e TV não hesitam em apontar que ainda falta representação. Mas como o número de pessoas de origem asiática aumentou nos EUA e o público demonstrou apetite por suas histórias,muitos atores,roteiristas e diretores afirmam: os papéis dos homens asiático-americanos evoluíram e isso ajuda a mudar a forma como eles são vistos.
— Todos nós queremos promover a narrativa de que os homens asiáticos são desejáveis — diz Manny Jacinto, que despontou interpretando um “gostosão burro” em “The good place” e,após viver um sedutor vilão na série “The acolyte”,da franquia “Star Wars”,será o marido de Lindsay Lohan na sequência de “Sexta-feira muito louca”. — Essas oportunidades não estão sendo dadas. Depende muito de nós criá-las.
Muitas representações do século XX de homens asiáticos no cinema americano eram,na melhor das hipóteses,estereotipadas. O supervilão chinês Fu Manchu; Long Duk Dong,um estudante de intercâmbio socialmente desajustado em “Gatinhas e gatões”,que entra em cena ao som de um gongo; e o desdentado Senhor Yunioshi em “Bonequinha de luxo”,interpretado pelo branco Mickey Rooney com um sotaque extremamente exagerado.
Kumail Nanjiani,que fez herói da Marvel em “Os Eternos”,reclama de papéis como “terrorista ou motorista de táxi” para atores com origem indiana ou paquistanesa,como ele — Foto: Ricardo Nagaoka/The New York Times
Até mesmo os virtuosos heróis dos filmes de artes marciais — como Bruce Lee,Jackie Chan e Pat Morita — eram elogiados por sua maestria,mas eram vistos como assexuados. Já as asiáticas frequentemente se deparam com o problema oposto: hipersexualização.
— Quem tem ascendência indiana ou paquistanesa,como eu,é frequentemente escalado como terrorista ou motorista de táxi. Ou o mais perigoso ou o menos perigoso,sem meio-termo — disse o ator Kumail Nanjiani, que fez “Os Eternos”,da Marvel.
Com o passar dos anos,essa falta de representação afetou muitos homens asiático-americanos.
— “Não gosto de asiáticos.” Ouvi isso muitas vezes quando era solteiro — diz Park. — Dá pra pensar,“o.k.,é a preferência dela”. Mas se parar para pensar,há muitas coisas que fazem parte dessa visão de mundo. E acho que as imagens que vemos contribuem para isso.
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O que atores e roteiristas asiáticos têm procurado retratar sobre si mesmos e suas vidas românticas não é simples — e pouco lisonjeiro. Booster,por exemplo,conta que era confiante sexualmente até baixar o aplicativo de encontros Grindr,onde logo descobriu que não era desejado.
— Isso me ensinou a me odiar de uma forma que eu nunca tinha percebido antes — disse ele sobre o racismo que encontrou. — Não tinha ideia de que era indesejável até me mudar para uma cidade grande e ser exposto a uma comunidade gay como essa.
Ele incorporou essa experiência e outras em “Fire Island”,que estrelou ao lado de Bowen Yang,um dos favoritos do público no programa de comédia “Saturday Night Live”.
Para Randall Park,ator,roteirista e diretor,“as imagens que vemos contribuem” para criar preconceito contra asiáticos — Foto: Ricardo Nagaoka/The New York Times
O novo filme de Sean Wang,“Dìdi”,reflete de forma semelhante aspectos de sua própria vida. O protagonista,Chris,é informado pela garota por quem está interessado que ele é “muito bonito para um asiático”. Um esquilo é mostrado dizendo a Chris que ninguém o ama. E,depois que ele é rotulado de “Chris asiático” pelos novos amigos skatistas que está tentando impressionar,ele insiste com esses amigos que,na verdade,é “meio asiático”,o que mais tarde eles descobrem que é mentira.
— As garotas me diziam: “Ah,você é o asiático mais bonito que eu conheço” — diz Wang. — Quando eu tinha 13 anos,eu realmente usava isso como um distintivo de honra. Elas queriam dizer isso como um elogio. Ninguém estava tentando ser sutilmente racista. E,ouvindo isso desde cedo,você simplesmente internaliza tudo.