2024-08-19 HaiPress
Edival Pontes garantiu o bronze no taekwondo após derrotar o espanhol Javier Pérez — Foto: Wander Roberto/COB/Divulgação
GERADO EM: 19/08/2024 - 05:30
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O bronze conquistado por Edival Pontes,o Netinho,no taekwondo nos Jogos de Paris fez o atleta brasileiro escrever o seu nome na história olímpica do país. Mas não apenas isso. A conquista pode ter “salvado a vida” do atleta para a sequência da carreira.
A medalha de bronze rendeu R$ 140 mil a Netinho,após portaria recente do Governo Federal publicada para não cobrar impostos sobre o prêmio em dinheiro. Mesmo contemplado por programas para atletas,Edival Pontes tem como principal fonte de renda o salário de terceiro sargento da Marinha — pouco mais de R$ 5 mil. Tanto o Bolsa Atleta estadual quanto o Bolsa Pódio — programa em que pode receber até R$ 16,6 mil — podem prover mais recursos,mas são proporcionais ao rendimento anual do atleta na modalidade,o que pode ser incerto com lesões e possíveis problemas em algumas competições.
— A Marinha foi essencial na minha vida. O dinheiro iria fazer uma falta enorme para mim (caso não conquistasse a medalha de bronze). A gente vinha se preocupando antes,com cálculos,o que iria fazer da vida após a Marinha,porque era a única renda fixa. Mas agora não preciso fazer as contas todo mês — disse Edival Pontes,que está em seu oitavo e último ano de serviço militar.
Adversidades
O caminho até ser medalhista em Paris,entretanto,foi com muita luta,esportivamente e também na vida. Para os Jogos de Tóquio-2020 — realizado entre julho e agosto de 2021 —,o paraibano Edival Pontes foi sem o principal incentivador: o seu pai,Loidmar Pontes. Ele,que acompanhava o filho na maioria das competições no Brasil,morreu vítima de câncer,em novembro de 2020.
Como consequência,Edival não foi bem na capital japonesa e acabou eliminado logo na primeira luta.
— Eu estava ruim,fiquei muito mal após a morte do meu pai. Ele era o meu conselheiro,era o cara com quem eu falava,perguntava,era sempre a minha primeira escolha falar para ele o que eu estava sentindo — disse Netinho,que prosseguiu: — Não queria treinar,muita coisa ficou acumulada na minha cabeça. Após um ano de Tóquio foi quando “caiu a ficha” para mim,que eu não estava bem da cabeça. Comecei a trabalhar mais essa parte mental.
Edival Pontes fez as malas e se mudou para Itaboraí,no Rio de Janeiro. Antes disso,ele já havia cruzado Brasília e São Paulo em busca de equipes com bons parceiros de treinos,dois anos antes da Olimpíada de Paris.
Mais bem preparado psicologicamente e em um time que julgava mais adaptado para si,os resultados voltaram a aparecer. Foi vice-campeão mundial em 2022,e medalhista de ouro por equipes nos Jogos Pan-Americanos de Santiago,no Chile,em 2023.
Montanha-russa
Entretanto,uma suspensão de cinco meses,aplicada em novembro do ano passado,trouxe nova incerteza à carreira de Netinho,que correu sério risco de ficar fora de Paris-2024.
— A partir do momento que chegou a notificação de doping para mim,eu só pensei no pior — disse.
Ainda assim,suas advogadas conseguiram fazer com que Edival Pontes voltasse a competir um mês antes do previsto na punição,cumprindo a quantidade mínima de competições para ser convocado para Paris pela Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD).
O retorno após o doping trouxe incertezas sobre a real condição de Netinho para a disputa olímpica. O início do brasileiro foi um banho de água fria em suas expectativas. Netinho perdeu logo na estreia para o jordaniano Zaid Kareem e precisou torcer para o seu rival chegar à final para sonhar com o bronze através da repescagem. E foi exatamente isso o que aconteceu. Primeiro,encarou o algoz de Tóquio,o turco Hakan Recber.
— Eu tentei esquecer ao máximo aquela luta (de Tóquio) e só me concentrar mesmo na estratégia para enfrentá-lo. Eu lembrei da dificuldade que tive daquela vez e no que eu errei — destacou.
Após sair do tatame e se preparar para a próxima luta,que foi contra o espanhol Javier Péres Polo,quando conquistou a terceira medalha brasileira na modalidade — as outras,também de bronze,foram de Natália Falavigna,em Pequim-2008,e Maicon Siqueira,na Rio-2016.
Projeto Los Angeles-2028
Com a medalha e a repercussão positiva entre crianças no esporte,o próximo passo é se organizar para LA-2028.
— O objetivo é procurar outros patrocinadores para fazer um ciclo mais leve e quem sabe isso aí não ajuda a gente a conquistar uma medalha de ouro em Los Angeles — disse: — A maior medalha é o exemplo. A partir do momento que chega um pai e fala que o filho faz taekwondo por minha causa,fico pensando: “Ele poderia ser qualquer coisa e quer seguir meus passos”. Mudar a vida de alguém é uma das minhas maiores conquistas.