2024-08-15 HaiPress
Rodrigo e Leandro se conheceram em 2018 — Foto: Editoria de Arte/Renata Amoedo
Participe da nova seção do GLOBO ‘Conte sua história de amor’! É só mandar seu relato,com no mínimo 2 mil caracteres e no máximo 5 mil,para o e-mail historiadeamor@oglobo.com.br. É preciso se identificar e mandar um telefone para contato. No entanto,caso prefira,a publicação pode ser anônima. As histórias selecionadas pela nossa equipe serão publicadas a cada 15 dias na versão digital (às quintas-feiras) e impressa (aos sábados) do jornal. Não é preciso ser escritor,apenas ter um conteúdo verdadeiro,vivido por você e com emoção genuína. Qualquer tipo de amor vale a pena!
Rodrigo e Leandro começaram a namorar uma semana depois de se conhecerem. — Foto: Editoria de Arte/Renata Amoedo
Confira a história desta semana,no depoimento de Rodrigo Malafaia:
"Me mudei para o México em 2015 quando surgiu uma proposta de trabalho para trabalhar como modelo por lá. Desde o começo tudo foi um grande desafio. Minha mãe tinha uma saúde bem sensível e instável e éramos muito unidos,mas ela insistia em dizer que eu precisava seguir a minha vida e não aceitar essa oportunidade a deixaria mal por eu não estar correndo atrás dos meus sonhos. Em 2017,ela faleceu,eu estava viajando pelo México e não estava com o meu visto de trabalho em mãos,porque não precisava dele para viajar dentro do país,entretanto,precisei sair de lá para retornar ao Brasil com urgência para o enterro dela.
Por conta disso,precisei cancelar meu visto de trabalho,que demorou mais de dois anos para se resolver. Fiquei um período trabalhando no México inclusive sem visto. Em 2018,voltei ao Brasil para concluir o meu problema com o visto e aproveitei para viajar pelo país. Durante uma viagem à Maceió estava olhando stories aleatórios no Instagram e passei pelo do Leandro. Achei ele tão lindo e como nunca fui de perder tempo e estava solteiro mandei uma mensagem. Ele me respondeu com prontidão,me elogiou e,como ele também estava viajando,marcamos de nos encontrar quando voltássemos pra São Paulo.
E assim aconteceu,chegamos no mesmo dia e no dia seguinte nos encontramos. Marcamos de tomar uma cerveja na casa dele. Lembro que nem arrumados estávamos. Estávamos de regata e shorts. Era apenas um encontro para tomar cerveja e conversar,mas não fazíamos ideia de que não nos desgrudaríamos mais.
Uma semana depois ele me pediu em namoro e eu aceitei. Naquela mesma noite ele me contou que vivia com HIV. Nunca me escondeu nada. Já tinha conhecimento sobre o assunto por relacionamentos antigos. Minha primeira pergunta para ele foi: “Você está se medicando,em tratamento? Está tudo bem?”. Ele me respondeu dizendo que faria uma consulta no médico e que eu poderia ir junto com ele se quisesse e que nós cuidaríamos disso juntos.
Eu o acompanhei em praticamente todas as consultas desde então. Ele se cuida sempre e todos os dias. Ele é indetectável,com cargas virais inexistentes e com a saúde ótima. Aliás,melhor que a minha que já é de ferro. Eu quero estar sempre com ele então o acompanhar ao médico,apesar de ser chato,sei que vai ser melhor comigo ali. Eu já tinha namorado outras pessoas que viviam com HIV,então para mim não foi uma surpresa ou algo que eu tive medo. Vida que segue. Com acompanhamento,sabendo tudo que está acontecendo o tempo todo contigo,você acaba vivendo até mais seguro já que o vírus não tem mais força no organismo. Então foi totalmente natural.
Nosso começo de relacionamento foi maravilhoso e um pouco angustiante porque estava com minha viagem marcada para o México assim que meu visto ficasse pronto. O que nos levava a crer que terminaríamos nesse momento. Não passava pela nossa cabeça seguir um relacionamento a distância.
Nunca tive o sonho de casar,mas um dia estava em um parque na Avenida Paulista,com ele e nossos amigos,éramos umas 15 pessoas,e em um determinado momento ele falou sobre viver com HIV. Soou tão espontâneo e normalmente em uma roda com todas aquelas pessoas e aquilo fez meu coração bater mais forte,fiquei encantado com aquela atitude e pensei: “é com esse homem que quero me casar,é com uma pessoa assim que queria fazer a diferença no mundo”. Eu já estava apaixonado,mas ali algo mudou. Eu senti algo que nunca tinha sentido na vida.
Não conseguimos terminar quando viajei e,ao invés disso,ele foi morar comigo um mês no México. Depois que ele voltou,eu chorava todo dia,tive duas crises de ansiedade e decidi voltar ao Brasil para me casar com ele.
Em fevereiro de 2022 nos casamos. Depois de adiarmos a celebração faltando oito dias,por dois anos,em razão da pandemia. Momento que nos uniu como nunca. Viver a pandemia junto com o grande amor da minha vida fez esse momento ser mais leve para nós dois,com toda a certeza. Hoje estamos há seis anos juntos e nos mudamos para Portugal para começar uma vida nova. Estamos mais felizes que nunca e prontos para viver tudo que tivermos que viver.
Nunca sofremos preconceito no dia a dia em relação a isso,muito pelo contrário,existe uma força de admiração e amor que cresceu muito depois de levarmos representatividade a pessoas que vivem com HIV. Mudou para muito melhor,fez muito mais sentido para nossa jornada como casal e individual. Já li alguns absurdos na internet mas eu os ignoro porque não são baseados em ciência então não levo em consideração.
Nós mudamos de país porque o Brasil não estava mais fazendo sentido para a gente,profissionalmente e pessoalmente. Não sentíamos mais prazer em fazer as coisas que fazíamos,nos lugares que íamos. Mas viver em segurança foi um dos maiores motivos que nos motivou. Ter liberdade e segurança de ir e vir,mexer no celular na rua,andar de madrugada,coisas básicas que não existem a possibilidade mais no Brasil. Então decidimos tentar nossas vidas e carreiras em Portugal que,por ser a mesma língua,não impacta tanto em nossos trabalhos.
E tem sido maravilhoso. Participamos da nova campanha de HIV do GAT (Grupo de Ativistas em Tratamentos) em Portugal,para conscientizar que o indetectável é igual a intransmissível. E o que é transmissível é o amor. Somos um casal monogâmico,sorodiferente,onde não há risco algum para mim já que a carga viral no meu marido é quase igual a zero,ou seja,intransmissível. E é uma das coisas que a gente vai levar onde estivermos. Amor e informação. Porque o preconceito mata e o amor e a informação salva"